De Homi Bhabha a Rita Pereira: Sobre o Inferno das Boas Intenções
“You’ve taken my blues and gone” (“Note on Commercial Theatre”, Langston Hughes)
Sabemos que, quando membros de uma cultura minoritária se apropriam de uma característica pertencente a um grupo dominante, tal pode transformar-se numa poderosa arma de justiça e reparação. Há exemplos maravilhosos deste fenómeno na literatura e não só. Homi Bhabha chamou-lhe “mímica” (mimicry), um conceito que opera pela repetição do mesmo com diferença. Através desta repetição imperfeita, o colonizado apropria-se do discurso do colonizador e dos seus modos de vida, mas apenas de forma parcial, deixando antever a racha no espelho: o mesmo mas não completamente. Igual mas não exatamente. É por essa racha que entra a luz desestabilizadora. Por sua vez, esta luz irá tirar partido da ambivalência identitária do próprio colonizador como forma de questionar o seu poder. Neste contexto, repetição é transgressão.
Quando o oposto acontece, ou seja, quando os poderosos se apropriam de características de culturas minoritárias, as desigualdades tendem a prolongar-se como sombras numa tarde de verão. Porquê? Pela simples razão de que, quando o colonizador imita o colonizado, não há espaço para ambiguidades identitárias. Historicamente, o colonizado não é entendido como o “modelo original”, portanto a representação da diferença, neste caso…